Seção 04
Posição diante das demais Tendências Oposicionistas
As tendências
oposicionistas são o conjunto de grupos, indivíduos, organizações que se
colocam como oposição ao capitalismo ou aos governos instituídos, assumindo
posições consideradas revolucionárias ou reformistas, alguns apenas no
discurso, outros na prática. As determinações das diversas tendências
oposicionistas são várias. Cada tendência possui suas próprias determinações.
Em alguns casos, é mero oportunismo, sendo que alguns indivíduos se colocam
como oposição apenas para receber proposta para se vender; outros assumem esta
posição por estar descontente com sua situação social, por não ter o nível de
renda e consumo que deseja, por não ter a fama e o poder que almejam, ou por
estar numa posição desprivilegiada na pirâmide social capitalista. Alguns por
falta de perspectiva de ascensão social e assim manifestam seu descontentamento
e/ou consegue, via oposição, alterar este quadro. Outros se opõem por uma
mescla de descontentamento e influências diversas, desde os modismos e grupos
de contato até um alto grau de desenvolvimento da consciência. Há também
aqueles que se tornam oposicionistas por descontentamento pessoal e relação
disso com o processo social global, unindo o individual e o coletivo.
A base social das
tendências oposicionistas também é variada, mas o seu forte são indivíduos
oriundos da burocracia em suas várias frações, setores da intelectualidade e da
juventude, estudantes e indivíduos oriundos das classes exploradas e subalternas.
Dependendo de sua base social e formação cultural, além de outras determinações,
as tendências oposicionistas assumem as mais variadas posições. Aqui estaremos
resumindo algumas das principais manifestações oposicionistas.
A) O Pseudomarxismo
Acadêmico
A força das
idéias de Marx e sua influência intelectual e política promoveram o nascimento
de diversas “escolas acadêmicas” que reivindicam o marxismo. Alguns possuindo
ligação com partidos políticos, outros sem nenhuma ligação política e, alguns,
abandonando qualquer pretensão política, fazendo do marxismo apenas uma
“concepção científica”, “método” ou “teoria”.
Sem dúvida, todas estas escolas representam uma assimilação do marxismo
do ponto de vista da burguesia ou de suas classes auxiliares, especialmente a
burocracia e a intelectualidade. A base social do pseudomarxismo acadêmico é a
intelectualidade, às vezes apoiada ou em contradição com a burocracia
partidária e/ou sindical.
O pseudomarxismo
acadêmico com pretensões políticas (com ou sem ligação partidária) é um
processo de deformação do marxismo, fazendo uma subsunção dele ao bolchevismo
ou social-democracia ou, ainda, a modismos e interesses conjunturais de
partidos e governos. O seu caráter conservador é por demais evidente, tal como
se pode perceber não só no discurso, como também na prática cotidiana de seus
representantes nas instituições acadêmicas, prontamente aliada (ou tolerante)
aos modismos, aos burocratismos, aos governos e suas diretrizes para a
academia.
Alguns parecem
mais radicais, como os que sustentam uma mistura de bolchevismo e academicismo,
junção não muito difícil de fazer devido ao cientificismo típico do leninismo.
No entanto, na prática acadêmica cotidiana não se distinguem muito dos seus
pares conservadores, com raras exceções. Na prática política, ou fazem um
discurso politizado, mas descompromissado (sem correspondência com nenhuma
prática política efetiva) ou se iludem com um ou outro partido dito de
“esquerda”, perdoando, justificando ou legitimando seu reformismo ou jacobinismo.
Não acrescentam quase nada na luta política, nem mesmo no plano cultural, pois
seu suposto “marxismo” é tão antiquado, burocrático e deformado que não passa
de uma caricatura. Defendem orgulhosamente o materialismo (burguês), o
racionalismo (burguês), o iluminismo (burguês), o determinismo (burguês), ou
seja, apresentam como marxismo uma determinada corrente do pensamento burguês.
Sem dúvida, muitos fazem isso inocentemente, devido sua própria formação
acadêmica realizada pelo pseudomarxismo acadêmico, mas isto não os isenta da
crítica e são os seus valores e não apenas limites intelectuais que lhes
permitiram reproduzir este pseudomarxismo caricatural e suas práticas
correspondentes.
Outra forma de
pseudomarxismo acadêmico é aquele que não tem pretensão política ou mesmo
ligação, a não ser em momentos eleitorais, que podem até se tornar ardorosos
defensores de determinadas candidaturas da pseudo-esquerda. Claro é que a
intelectualidade e a burocracia escolar e acadêmica têm mais proximidade, por sua
situação de classe, com as burocracias dos partidos políticos de “esquerda”,
com sua valoração da ciência e da educação (ambas burguesas) que tende a se
refletir nas suas políticas educacionais. Outros realizam uma síntese eclética
do seu pseudomarxismo com as escolas acadêmicas na moda e podem fazer o alegre
discurso de que os intelectuais não são uma vanguarda e que não devem buscar
interferir nas lutas dos outros, não devem fazer o discurso sobre o outro e sim
deixar que eles o façam. Assim podem continuar alegremente sendo conservadores
e posar de críticos e de “esquerda”. Há ainda os que se colocam como radicais e
fazem todo um discurso sobre o papel proeminente da importância do trabalho
intelectual (ou “imaterial”) e por isso suas concepções, geralmente ecléticas,
são fundamentais e justificam, inclusive, apoio a governos “social-democratas”,
atualmente “neoliberais de esquerda”.
Outra forma de
pseudomarxismo acadêmico é a expressa pela sua tendência puramente
academicista. Para esta tendência, Marx e o marxismo são apenas “um quadro
teórico”, “um método”, ou “concepção científica”. Sem dúvida, trata-se de um
marxismo deformado, muitas vezes próximo ao pseudomarxismo acadêmico politizado
ou das tendências social-democratas e bolchevistas, que no fundo só tem pretensões
acadêmicas e usa o pseudomarxismo como moeda de troca e meio de luta por espaço
acadêmico. É neste grupo que nasce, também, as diversas tentativas de união do
marxismo com as ideologias burguesas da moda (estruturalismo, fenomenologia, existencialismo,
psicanálise, psicologia, ecologia, individualismo metodológico, etc.). Eles
sacrificam o marxismo no altar da Deusa Fama ou do Deus Dinheiro (ou qualquer
outro Deus da religião capitalista), vendem sua alma ao diabo, mas sem qualquer
tendência fáustica. Neste caso, o “marxismo” é despolitizado, deformado e
desessencializado e se torna apenas mais uma ideologia, mas tratando de forma
reverente um velho filósofo barbudo da Alemanha que viveu no século 19.
Todas as formas
de pseudomarxismo acadêmico rompem com o caráter revolucionário e libertário do
marxismo e, portanto, são expressões de ideologias burguesas ou de suas classes
auxiliares, que nada acrescentam à luta operária, pelo contrário, são entraves
na maioria dos casos, só tendo utilidade em questões pontuais ou ocasionais. Os
representantes destas tendências são os degenerados do pensamento de esquerda,
expressando não os interesses da emancipação humana e sim os interesses da
reprodução da miséria humana em benefício de uma minoria no qual eles se
incluem ou querem se incluir.
As teses do
pseudomarxismo acadêmico são ideologias, no sentido marxista do termo, isto é,
formas de falsa consciência sistematizada. Na verdade, elas são antagônicas ao
método dialético, ao materialismo histórico, e a teoria do capitalismo
produzida pelo marxismo. Isto ocorre via substituição do marxismo pelo
leninismo ou por qualquer variante das ideologias acadêmicas burguesas. O
leninismo é assimilável e aceitável por várias tendências do pseudomarxismo
acadêmico, por fazer o culto da ciência e da vanguarda, ressaltar o papel
proeminente da intelectualidade, filha bastarda da burguesia. Daí também a
facilidade em se mesclar com os modismos acadêmicos, pois assim faz aliança com
os setores dominantes da instância acadêmica e ainda pode se vangloriar de
possuir uma posição crítica. Por isso, o seu pobre ecletismo consegue, em
certos casos, ser mais débil do que algumas ideologias burguesas, e suas teses
são acompanhadas por práticas acadêmicas e políticas conservadoras. Em
determinados casos, devido à influência do marxismo, consegue contribuir com a
compreensão de questões particulares e avançar em certos casos, mas, apesar
disso, ainda é uma ideologia, e assim predomina em seu interior a falsa
consciência em meio a momentos de verdade.
b) Pseudomarxismo
reformista
O pseudomarxismo
reformista é o composto por membros de partidos social-democratas ou de
organizações da sociedade civil que se dizem “filantrópicas”. A sua base social
é a burocracia partidária, a burocracia sindical e a burocracia das
organizações da sociedade civil e setores da intelectualidade.
O pseudomarxismo
social-democrata pode assumir várias formas e cores, desde as clássicas do
final do século 19 e início do século 20, passando pelo eurocomunismo e
chegando ao “neoliberalismo de esquerda”, “pós-marxismo” e “cooperativismo”. As
velhas tendências do pseudomarxismo reformista, em suas diversas diferenças
internas, são apenas expressões dos setores moderados da burocracia e
intelectualidade, que querem através de reformas e benefícios para os seus
partidários, minimizar os males do capitalismo. No fundo, querem manter seus
privilégios ou aumentar sua renda e ainda ficar com “a consciência tranqüila”.
Suas propostas em nada alteram a sociedade existente e as supostas melhorias
que conseguem (na área da saúde e educação) são meros espantalhos que afastam
os corvos da oposição interna no partido ou da classe trabalhadora.
O pseudomarxismo
filantrópico busca nas políticas estatais de assistência social (“políticas
públicas”) ou nas entidades filantrópicas, não só jogar migalhas para as
galinhas trabalhadoras como também desviar e usufruir o maior quinhão delas
para si mesmo. Alguns inventam formas fantasiosas de transformação social sem
romper com o mercado ou o Estado, através de cooperativas, “economia solidária”
e coisas do gênero. Eles pensam em criar pequenas ilhotas de solidariedade, de
“autogestão”, de “comunismo”, de “socialismo”, em meio ao mar bravio do
capitalismo. Sem dúvida, a sua concepção de socialismo não passa de mero
reformismo, mesclando tais ilhotas com o mercado capitalista e o Estado
Burguês, batidos no liquidificador do intelectual prestidigitador e formando
uma nova ideologia neo-reformista. Estes pseudomarxistas degenerados são os
maiores incentivadores da formação de novas camadas da burocracia civil, através
de instituições chamadas de ONGs (Organizações Não-Governamentais), Terceiro
Setor e coisas semelhantes, sustentadas muitas vezes com os recursos do Estado
capitalista ou de “generosas” instituições internacionais, tal como a Fundação
Ford, Fundação Rockfeller, entre outras.
As teses do
pseudomarxismo reformista, que muitas vezes nega o marxismo, o leninismo e as
tendências políticas mais radicais (anarquismo, autonomismo, etc.) ou tenta
integrá-las, desvirtuando-as, expressam um reformismo que pode, dependendo do
contexto, ser mais radical ou mais moderado. Porém, nunca ultrapassa o nível
das reformas sociais e nunca questiona o modo de produção capitalista,
declarando para todos ouvirem que pensar o pós-capitalismo é uma utopia, um
sonho irrealizável.
C) O Pseudomarxismo
Bolchevista
O velho
bolchevismo, moribundo, ainda existe. Em suas várias vertentes (stalinismo,
trotskismo, etc.) ele sobrevive mesmo após a derrocada do capitalismo estatal
soviético e congêneres. Pequenos partidos agrupam grupos de indivíduos
sectários que pensam, ainda, que são a vanguarda da classe operária e que irão
desempenhar um papel semelhante ao do bolchevismo na Rússia. A base social
desta posição é complexa. Grande parte de seus adeptos saem dos extratos mais
baixos da burocracia civil, da burocracia sindical e da intelectualidade (e
justamente por isso são sua fração mais radical e extremista), bem como de
setores oriundos da classe operária, campesinato, lumpemproletariado, que se
aproximam pela radicalidade das idéias e logo se transformam em burocratas. Há
também jovens e estudantes marginais no mercado de consumo burguês ou de origem
pobre, ou então de filhos de pais conservadores que querem incomodar ou
aprender as artimanhas das jogadas burocráticas para utilizá-las posteriormente
na vida acadêmica ou na política eleitoral.
O pseudomarxismo
bolchevista padece de uma total falta de criatividade e se limita reproduzir as
teses dos grandes líderes da burocracia radicalizada, Lênin, Stálin e Trotsky.
Alguns partidos-seitas reproduzem as teses destes líderes sem nem sequer
atualizá-las ou observar sua falta de correspondência com a realidade
contemporânea. Os partidos que conseguem agrupar um maior número de militantes
tendem ou aderir ao reformismo e cair no chamado “revisionismo”, ou então a
ficar eterno aliado de partidos reformistas nos processos eleitorais, querendo
ser seu “superego” moral e retomar os “camaradas reformistas” para a “linha justa”.
Os intelectuais mais ativos produzem mais fora dos quadros partidários do que
no seu interior, produzindo obras pelo menos com mais requinte acadêmico.
As teses
leninistas do partido de vanguarda, da “teoria do reflexo”, da estatização dos
meios de produção, e outras tão ou mais caducas do que estas, ainda são
reinantes. Obviamente que isto se deve aos interesses daqueles que dão vida a
tais organizações, especialmente a burocracia partidária. No fundo, o
pseudomarxismo bolchevista já vinha historicamente perdendo força e com a
derrocada do capitalismo de estado russo passou a ser uma força política menor,
mas ainda continua sendo uma ameaça sob a forma de contra-revolução
burocrática, mesmo porque pode ser aliar com as demais forças pseudomarxistas e
setores da sociedade para evitar a revolução proletária.
D) O Sindicalismo
O sindicalismo é
filho da burocracia sindical. Os sindicatos, produtos da luta operária em seus
primeiros passos, foram assimilados pela burguesia e se tornaram aparatos da
burocracia sindical. Os sindicatos tiveram momentos em que expressaram uma
radicalidade que permitiu surgir forças revolucionárias se reivindicando do
sindicalismo, tal como o sindicalismo revolucionário na França, o
anarco-sindicalismo, entre outras.
Porém, esse
período áureo do sindicalismo é algo do passado e sem possibilidade de
retornar. Hoje, a burocracia sindical reina absoluta e é a base social do
sindicalismo, e não somente isto, como também é aliada ou dos governos ou das
burocracias partidárias. O sindicato é uma organização burocrática cujos
dirigentes possuem interesses próprios e tais interesses não são os da
emancipação humana. A organização por categoria profissional favorece o
corporativismo e os burocratas sindicais se limitam a fazer exigências relativas
a ela, e não ultrapassa o nível de defender o valor da mercadoria força de
trabalho e suas condições de trabalho. A burocracia sindical que ultrapassa o
papel de representar a força de trabalho junto aos patrões é a que se alia a
partidos políticos, especialmente os ditos de “esquerda” e apenas buscam
representar seus próprios interesses de outra forma, e é isto que explica seu
servilismo a partidos e governos. Isto também explica sua falta de projeto e
concepção política própria, pois vive a reboque da intelectualidade ou da
burocracia partidária.
O sindicalismo
não é uma força proletária e os sindicatos não são organizações operárias e sim
burocráticas, neste sentido não é meio nem apoio para a transformação social e
muito menos são as instituições da futura sociedade comunista, como pregam
anarco-sindicalistas e sindicalistas revolucionários. São instituições
burguesas que agrupam mais uma fração da classe social burocrática, a
burocracia sindical.
E) O “Socialismo”
Individualista
Com a emergência
da sociedade burguesa, determinadas concepções e valores se tornaram
predominantes. Um destes valores dominantes é o indivíduo, alicerce do
individualismo. O individualismo, inclusive, é a base de uma das mais
importantes ideologias burguesas, o liberalismo. No capitalismo, ao invés do
indivíduo subsumido na comunidade, em relações sociais que o desconsidera, na
religiosidade, temos o indivíduo como valor e com um espaço social que não
existia antes, inclusive no direito burguês. Porém, o individualismo serviu
tanto para o capitalismo nascente, e, principalmente, para o liberalismo
“econômico” e “político”, quanto para alguns descontentes com a civilização
burguesa. Muitos negaram o Estado (tal como alguns liberais), as instituições,
a burocracia, em nome do indivíduo. O individualismo, um aspecto da concepção
burguesa do mundo, passou a ser defendido por alguns intelectuais e ativistas
que se colocavam contra a sociedade burguesa, e isto sob as mais diferentes
formas.
No plano
político, desde Spencer e Stirner, à direita ou à esquerda, o individualismo
cumpriu um papel importante no mundo das ideologias políticas. Hoje, o
individualismo está mais influente do que antes. O anarco-individualismo, as
correntes políticas influenciadas pelo “pós-estruturalismo” e outras ideologias
modernas ou contemporâneas, ganharam influência, principalmente no meio da
juventude e dos estudantes.
A juventude é uma
produção da sociedade burguesa e se caracteriza pelo estágio de ressocialização
pelo qual estão passando os indivíduos de determinada faixa etária, que é
variável[1].
É uma preparação para o indivíduo assumir as responsabilidades civis (sociais,
políticas, familiares) e laborais (o trabalho alienado), através,
principalmente, de instituições formadoras, tal como a escola e as
universidades.
Neste contexto,
parte da juventude realiza a contestação da escola, da universidade, da
sociedade burguesa, e para realizar tal recusa utiliza os recursos intelectuais
disponíveis e acessíveis. A negação da sociedade burguesa é realizada, em sua
maior parte, por setores da juventude originados das classes exploradas, mas
também pelos filhos das classes auxiliares da burguesia descontes com o seu
nível de renda e consumo, e, também, por outros de mesma origem que pretendem
contestar apenas algumas características da sociedade capitalista que lhes
incomoda (sexualidade, arte, escola, etc.).
As ideologias
pós-estruturalistas, de Foucault, Deleuze e outros, são expressão de uma
contra-revolução cultural preventiva que se iniciou a partir da derrota das
lutas operárias e estudantis do final dos anos 1960. O pós-estruturalismo
resgatou temas, problemas, algumas idéias e alguns autores para formar a base
de uma concepção conservadora, individualista e ideológica, no sentido de
despolitizar e enfraquecer o movimento contestador da juventude e das classes
exploradas. São quimeras sem sentido, mas que são apoiadas pelos meios
oligopolistas de comunicação e assim se tornaram “modas”, sendo acessível e
dando um certo ar de “novidade”, “atualidade” e “renovação”, que combina com a
juventude e sua submissão aos valores burgueses, até mesmo quando contesta a
sociedade burguesa.
O “socialismo”
individualista tem horror à organização e à razão e enfatiza a transformação
individual, o cotidiano. Ao desligar esta mudança individual do processo global
de transformação social; ao recusar a necessidade de organização (a
auto-organização, que possui caráter revolucionário ao contrário da organização
burocrática); ao negar o papel fundamental da teoria para compreender a
sociedade contemporânea e sua história, confundindo crítica da razão
instrumental, da ideologia, com crítica da razão em geral, da teoria, acabam
reforçando o irracionalismo e a impossibilidade de comunicação e associação; o
socialismo individualista assume posições extremamente conservadoras e
imobilizadoras.
As teses e
propostas do socialismo individualista são quimeras que dificultam uma
articulação da juventude com o movimento revolucionário e que somente sua
superação permitirá o avanço das lutas sociais. É por isso que os adeptos do
socialismo individualista tendem, entrando na “idade adulta”, a se tornarem
bons conservadores e é isto que explica o fato dos intelectuais que defendem as
ideologias pós-estruturalistas serem justamente os que assumem posturas
conservadoras e em muitos casos em contradição com o próprio discurso, bem como
a aproximação destes com os jovens.
F) O “Socialismo”
Filosófico
O socialismo
filosófico é uma fantástica “ideologia revolucionária” que retrocede ao pré-marxismo.
Marx havia decretado o fim teórico da filosofia, mas o mundo das abstrações
enlouquecidas insiste em sobreviver e influenciar as concepções de mundo
existentes. Sob a bandeira do situacionismo, da mescla de diversas concepções,
e até mesmo do pós-estruturalismo, surgem teses e correntes políticas
defendendo uma espécie de socialismo metafísico, que em certos pontos se
assemelha ao marxismo, mas que em outros é uma total negação dele.
A base intelectual
do “socialismo” filosófico é uma filosofia especulativa que possui diversos
desdobramentos. Alguns retiram de Marx determinados termos e os transformam em
fetiches. Este é o caso de termos como “totalidade”, “capital”, etc. Eles
pensam o mundo dominado pelo capital e que tudo pode ser recuperado por ele, e,
portanto, é necessária uma recusa total, uma não-afirmação – pois uma afirmação
poderia ser recuperada –, um hermetismo de linguagem que só os iniciados
poderiam entender – já que desta forma o capital não recuperaria –, e diversas
outras teses que servem principalmente para fortalecer o imobilismo.
Outros se
inspiram no situacionismo e também se refugiam na “totalidade” e vociferam
contra a “separação”, o “espetáculo”, etc. Vivem num autismo grupal e buscam
criar uma nova seita, fazendo do sectarismo a justificativa de sua “pureza
revolucionária”. Esse purismo, mais uma pretensão do que uma realidade, pois
não escapa do “espírito da época” (tal como o socialismo individualista faz a
recusa do bolchevismo e apresenta uma aderência às novas ideologias burguesas,
a recusa da organização burocrática se transforma em recusa de organização em
geral, etc.).
Há também aqueles
que idolatram determinado intelectual em evidência e mescla suas teses com as
concepções críticas ou esquerdistas. Eles unem ecleticamente as diversas teses,
algumas realmente revolucionárias ou críticas, e outras, conservadoras ou pseudo-revolucionárias.
Num mesmo balaio podem ser vistos dois ou mais expressões de pensadores ou
correntes influentes: Marx, situacionismo, anarquismo, Escola de Frankfurt,
ideologias pós-estruturalistas, Castoriadis, Toni Negri e Robert Kurz, etc.
Embora seja algo totalmente incoerente reunir as teses atuais de Negri, novo
ideólogo da intelectualidade e defensor do governo “neoliberal de esquerda” no
Brasil, e teses revolucionárias, bem como pensar que Kurz é marxista ou que
compreendeu a teoria de Marx com suas abstrações metafísicas e fetichismo do
mercado, entre outros exemplos, isto ocorre freqüentemente. Isto significa ou
pouca compreensão de teorias e do pensamento político, ou oportunismo, já que
se caracteriza por se aliar aos modismos, ambos prejudiciais a qualquer teoria
e prática revolucionária.
A idéia de
totalidade concreta de Marx é substituída por uma “totalidade abstrata”, e se
cria uma oposição radical entre, por um lado, os membros do tal grupo e
determinados setores da sociedade que são idealizados como portadores do
potencial transformador (o proletariado, os despossuídos, etc.) e, por outro,
“o capital”, “o poder”, “o Estado”, “a lei do valor”, “o mercado”. As classes
sociais existentes concretamente são substituídas por construtos, falsos
conceitos, metafísicos. Daí, em algumas destas tendências, burocracia,
campesinato e lumpemproletariado não existem, só existem dois lados. Esta
simplificação parece com a concepção de sociólogos conservadores que, para se
opor à teoria marxista das classes sociais, argumentam que a grande divisão
existente é entre “ricos” e “pobres”, ou “incluídos” e “excluídos”.
A abstração
metafísica substitui a dialética materialista e assim, embora em muitos casos haja
uma sincera busca por uma concepção revolucionária, não ultrapassa o nível da
ideologia e do discurso crítico. Assim, esta tendência faz um discurso
anti-Estado, anti-capital, anti-mercado, anti-parlamento, anti-partidário, e se
coloca numa postura crítica diante da sociedade capitalista. Porém, lhe falta
potencial de articulação com o movimento operário e demais setores descontentes
da sociedade, devido seu autismo grupal e não apresentar uma real alternativa,
inclusive porque nega pensar a futura sociedade pós-capitalista, se limitando a
um pobre negacionismo. Tal negacionismo, no fundo, não realiza uma negação
radical do capital, pois para fazê-lo é necessário um projeto alternativo, uma
afirmação, que é justamente a autogestão social.
A base social do
socialismo filosófico é eclética, tal como professores de filosofia, estudantes
universitários, jovens rebeldes, ex-bolchevistas desiludidos, entre outros.
Eles criam uma comunidade própria e com base nisso criam uma nova linguagem,
teses, etc., buscando se afastar das “impurezas do mundo capitalista”, e isto é
a razão de ser do seu purismo, sectarismo, autismo grupal e desconfiança e
afastamento em relação a outras tendências de esquerda, que eles tentam assimilar
ou então criticar ou, ainda, se afastar.
No fundo, esta
base social expressa uma desilusão e um apego a idéias fetichizadas para
apontar uma saída e uma pureza que é contraditória, pois enquanto indivíduos e
seres sociais reproduzem grande parte daquilo que criticam. É um produto da
época do capitalismo durante o regime de acumulação integral, tal como o
socialismo individualista atual, expressão do desespero e falta de esperança,
que gera dogmas e seitas. Sem dúvida, grande parte dos seus representantes
manifesta um sentimento revolucionário, mas que não consegue ser traduzido para
uma teoria revolucionária, e, neste caso, se cria uma contradição entre
sentimentos (e, portanto, objetivos) revolucionários e teses críticas, mas
contraditórias e que trazem em si muitos obstáculos para uma concepção
realmente libertária.
G) O “Socialismo”
Romântico
O socialismo
romântico já tem uma longa história, tal como se pode ver no socialismo
pré-marxista, no obreirismo e em outras concepções e tendências atuais. O
socialismo romântico contemporâneo possui duas tendências principais: uma de
caráter reformista e outra de pretensões revolucionárias. O socialismo
romântico reformista, tal como outras visões reformistas, mantêm um discurso
que fala em revolução, mas adia isto para um futuro bem distante. Eles
idealizam os trabalhadores, os explorados, os oprimidos, querem defender sua
causa, e por isso se limita a produzir teses e agir nos limites das próprias
“massas”, isto é, ficam nos limites das lutas espontâneas.
As tendências com
pretensões revolucionárias só se diferenciam por não propor o socialismo para
um futuro distante, mas a prática concreta acaba sendo semelhante. Para
conseguir ter contato e confiança da população, se diluem no seu interior,
aceitam suas limitações, evitam conflitos (inclusive com os seus setores
cooptados por partidos políticos) e se limitam a “trabalho de bairro”, ações
junto com os explorados e oprimidos, defendendo seu “protagonismo” nas lutas.
Eles se esquecem que as lutas são também culturais e que são dos indivíduos
contra eles mesmos, dos grupos oprimidos contra a opressão mental e intelectual
a que estão submetidos –, e a fazer eternas reuniões recheadas de “relatos de
experiência”.
A “experiência”
passa a ser um fetiche e o empiricismo não permite perceber que, além da
experiência física (o trabalho, o pertencimento de classe) existe a experiência
cultural (a ideologia, os valores, os sentimentos, a dominação cultural), e que
ambas estão ligadas a um conjunto de relações sociais que ultrapassa a mera
experiência dos indivíduos e grupos. Tomam o indivíduo por sua situação social
e isola este aspecto, esquecendo que ele possui uma determinada mentalidade
(compondo valores, sentimentos, idéias, etc.) constituída na sociedade capitalista
e passam a romanticamente pensar que não existem mediações entre o indivíduo e
a dedução lógica de que ele deveria ser revolucionário.
De certa forma, é
um leninismo ao avesso, pois a concepção bolchevista pensa que as “massas” são
incultas para adquirir a consciência socialista por si mesma e por isso é
preciso que os intelectuais produzam tal consciência e a inculque nelas, sendo
uma consciência “atribuída”. Os socialistas românticos pensam que a consciência
que eles atribuem às classes desprivilegiadas já está encarnada nelas. Se os
leninistas dizem: criamos a consciência socialista, agora vamos levá-la às “massas”;
os socialistas românticos dizem: a consciência socialista já está presente nas classes
desprivilegiadas, então vamos segui-las. O mal oposto do vanguardismo é o
reboquismo.
O socialismo
romântico produziu um extremismo ingênuo e pouco realista que é o primitivismo,
uma recusa da civilização e defesa da volta ao mundo selvagem. Esta posição é
expressão das tendências regressivas que são expressão do capitalismo
contemporâneo. Em momentos de crise ou de falta de perspectiva visível, muitos
aderem ao misticismo, ao naturalismo e outros posicionamentos que são
produzidos tanto da perspectiva da classe dominante (o fascismo e o nazismo são
tendências regressivas) quanto de suas classes auxiliares (indivíduos
descontentes, não integrados em sua classe social ou que fracassaram no projeto
de realização financeira ou pessoal). Isto acaba gerando propostas inexeqüíveis
e apelos conservadores: um fantasioso “retorno ao natural”, uma idealização dos
camponeses, laços místicos com antepassados e raças antigas. Sem dúvida, muitos
indivíduos com problemas psíquicos e alto grau de infelicidade são apoiadores e
incentivadores destas tendências regressivas, que, quando se diz oposicionista,
faz apenas obstaculizar a percepção do verdadeiro problema e da verdadeira
solução.
A
base social do socialismo romântico também é eclética, sendo que estudantes,
jovens, indivíduos oriundos das classes exploradas ou indivíduos desiludidos
das classes auxiliares, entre outros. São atraídos pela insatisfação com a
sociedade contemporânea e com um humanismo que proporciona uma ligação com as “massas”,
mas que, devido à falta de uma teoria da sociedade capitalista e da revolução
proletária, acabam caindo no romantismo e no reboquismo, mesmo quando
inspirados por concepções anarquistas.
H)
O Anarquismo Dogmático:
O anarquismo
dogmático é uma tendência cuja base social é principalmente formada por jovens
e sua formação se fundamenta numa idolatria pouco libertária de indivíduos e
pensadores, especialmente os grandes nomes do pensamento anarquista. Devido aos
conflitos de Marx e os anarquistas Proudhon e Bakunin, e dos pseudomarxistas
posteriores e os anarquistas durante a Revolução Russa e Guerra Civil
Espanhola, entre outros casos, os anarquistas dogmáticos não só evitam o estudo
da história e do pensamento de Marx, como tomam para si uma concepção dogmática
e antimarxista que beira ao irracionalismo. Por isso eles recusam teses que até
mesmo os seus ídolos (tal como Bakunin) aceitaram de bom grado, como é o caso
do materialismo histórico.
Alguns, na ânsia
de recusar o marxismo, acabam abraçando ideologias conservadoras, tal como o
pós-estruturalismo, para ter uma base filosófica ou conceitual para contestar o
marxismo. A falta de uma base teórica para o anarquismo faz dele uma tendência
frágil e sua base social, muitas vezes antiintelectualista e com adeptos do
militantismo, além dos que não possuem muita disposição para estudos e
pesquisas, faz com que acabem ziguezagueando em torno de reflexões superficiais
e apego a doutrinas de forma quase religiosa, em profunda contradição com os
princípios do anarquismo.
O anarquismo
dogmático, no fundo, é muito pouco “anarquista”, pois o comodismo, o
sectarismo, o dogmatismo, são pouco correspondentes aos ideais libertários que
estão na base do pensamento anarquista. Isso nos faz ver inúmeros jovens que
parecem idosos mentais, procurando ainda defender raivosamente Bakunin e
Proudhon do malvado Marx, inclusive, de forma mais intensa e furiosa do que
quando defendem os anarquistas, anônimos ou não, que morreram nas tentativas de
revolução proletária nas mãos dos bolchevistas.
Outro defeito
grave do anarquismo dogmático é não avançar, tomando os escritos de Proudhon,
Bakunin, Malatesta e Kropotkin, como a palavra final, não havendo nada mais
para atualizar, acrescentar, rever, repensar. As idéias anarquistas são
cristalizadas e solidificadas e a eterna repetição dos clássicos é tida como
suficiente. As novas condições históricas são esquecidas, bem como a
necessidade de avançar além dos princípios básicos, de pensar o processo
revolucionário a partir do contexto contemporâneo e aprofundar/desenvolver as
teses já estabelecidas. Assim, o dogma substitui o pensamento revolucionário e
libertário, criando um esclerosamento desta manifestação do anarquismo.
I)
O Anarquismo Revolucionário
O anarquismo
revolucionário – diferentemente das versões incipientes e dogmáticas, que caem
na irresponsabilidade, no individualismo, no sectarismo – aponta para uma concepção
revolucionária, embora sem ter uma teoria do capitalismo e da história, que
algumas de suas tendências resolvem admitindo o valor da teoria marxista do
modo de produção capitalista e da luta de classes. O anarquismo revolucionário
é dividido em diversas tendências, algumas com limitações derivadas da
influência do socialismo romântico, outras com limitações derivadas de uma percepção
não muito aprofundada do método dialético e do materialismo histórico, o que
dificulta pensar uma estratégia revolucionária mais ampla.
O grande mérito
do anarquismo revolucionário é não recusar a organização e não cair no
dogmatismo e no antimarxismo, percebendo que a base das lutas sociais reside
nas classes e seus interesses, nas lutas concretas e não em idéias
solidificadas eternamente. Assim, o anarquismo revolucionário torna possível
pensar não em termos abstratos e metafísicos, mas em termos concretos,
pressuposto necessário para uma luta revolucionária.
De qualquer
forma, o anarquismo revolucionário, cuja base social também é eclética (jovens,
estudantes, proletários), é uma promessa que tende a se concretizar enquanto
movimento político com o desenvolvimento da luta operária. A emergência de um
anarquismo revolucionário é expressão da tendência de radicalização das lutas
sociais e do aparecimento de diversas manifestações proletárias. Tais
manifestações são, em muitos casos, contraditórias, limitadas, etc. O anarquismo
revolucionário é, ao contrário, uma forma superior de manifestação e, por isso,
possui um caráter libertário.
Os Militantes Autogestionários e as
Tendências Oposicionistas
A posição dos
militantes autogestionários diante das diversas tendências oposicionistas
varia. No caso das tendências academicistas, reformistas, bolchevistas e
sindicalistas, a crítica e combate são a posição mais natural e comum. Em casos
raros, dependendo de determinada conjuntura, é possível uma ação conjunta por
questões mais pontuais. No geral, são forças não-revolucionárias, que ajudam
mais a reprodução do capitalismo do que ao seu combate e, neste sentido, são adversários
políticos a serem combatidos. Em momentos revolucionários, o combate é
inevitável, pois irão contribuir com a contra-revolução, querendo se aquartelar
no poder estatal. No que se refere a indivíduos e não grupos, é possível um
contato e diálogo, talvez até colaboração em questões pontuais ou em algo mais
permanente. Em certos aspectos, tal como enfrentamento com setores da
burguesia, ideologias ou governos, é possível, seguindo lógicas diferentes,
atuar em conjunto.
No caso das
tendências individualistas, românticas, filosóficas, anarquistas dogmáticas, a
posição deve ser de articulação e busca de realizar um processo de crítica e
debate visando esclarecer as posições e mostrar as limitações e conseqüências
sociais de suas teses e ações. No que se refere ao anarquismo revolucionário, a
posição deve ser de ação conjunta e articulação, no sentido de reforçar as
lutas operárias e sociais em geral[2].
Esta posição não
significa desconsiderar os indivíduos que, por falta de opção, informação, adere,
alguns temporariamente, a determinadas organizações ou forças políticas. Uma
coisa é determinada organização ou concepção, outra coisa são os indivíduos que
podem transitar de uma para outra organização/concepção. Isto quer dizer que
nem todos os indivíduos que estão em uma organização partidária leninista ou
aderem ao leninismo enquanto ideologia, é contra-revolucionário[3]
e o mesmo vale para os adeptos de outras organizações/concepções.
A nova geração de
militantes não nasce conhecendo a história do movimento socialista e do
movimento operário, não nasce sabendo o que é o bolchevismo, o
pós-estruturalismo. Ao juntar inexperiência intelectual e prática, desconhecem
também as outras opções e tendências, além de existir uma forte influência da
mentalidade burguesa que torna mais convincente o discurso leninista,
reformista, academicista, mais “realistas”, mais próximos das relações sociais
nos quais os indivíduos nascem e se desenvolvem. Pensar o além do capitalismo
não é uma tarefa fácil, e por isso, mesmo pessoas que possuem valores antagônicos
aos valores dominantes, se não tiverem acesso à cultura e teoria realmente
revolucionárias, podem se iludir e ficar nos limites da vanguarda burocrática. Outros
indivíduos, não tão jovens, podem se apegar a determinadas organizações e
concepções, inclusive devido a uma sólida formação intelectual, que às vezes gera
uma ligação com determinadas idéias que dificilmente são abandonadas posteriormente.
Dentre estes, aqueles que possuem autocrítica e sentimentos autênticos no
sentido de querer a transformação social, podem estar mais próximos de uma
postura ética e assumir práticas de contestação e reconhecimento de realidades
e teses que outros não conseguem fazer.
Outras
determinações também atuam, inclusive de ordem psíquica[4],
o que complexifica mais ainda a questão, mas, de qualquer forma, não é possível
pensar numa incorrigibilidade dos indivíduos, principalmente dos mais jovens. Por
isso é preciso distinguir entre as organizações/concepções, por um lado, e os
indivíduos, por outro. Sem dúvida, que os líderes e burocratas são muito mais
propensos a manter suas posições, mas a base dos indivíduos militantes já é
mais passível de mudar de posição. Assim, a distinção entre
indivíduo/organização é uma necessidade para se evitar práticas equivocadas e
contribuir com uma melhor compreensão das lutas políticas e assim efetivar uma
práxis revolucionária e reforçar a luta pela autogestão social.
[2]
Estas observações são em relação a tendências políticas e intelectuais e não a
grupos políticos existentes, pois, com o desenvolvimento do processo histórico,
diversos grupos autogestionários poderão existir, bem como anarquistas
revolucionários, e, neste sentido, a relação é a mesma.
[3]
Aqui a distinção é entre “ser” e “estar”. Sem dúvida, ao estar ligado a uma
organização contra-revolucionária e agindo e pensando como ela, então o
indivíduo, por mais bem intencionado que seja, está contra-revolucionário.
Porém, dependendo de seus valores, sentimentos, etc., poderá superar isto, o
que significa que não é uma questão de ser e sim de estar. Isto vale para
alguns indivíduos, mas não para todos, pois a maior parte nesta situação é,
pela própria estrutura da sua mentalidade, contra-revolucionária.
[4]
Pessoas de personalidade autoritária, por exemplo, tendem a aderir a
organizações burocráticas.
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